Entre costelas e dentes, lembrei-me de quem mas deu... as alentejanas isto é... o meu papá...
Custa-me ser tão incapaz de expressar o que sinto... não faz sentido ter-se cerimónias com os pais, mas sempre as tive. Acho que até aos meus 18 anos ou assim, pedia autorização para usar o telefone, pedia autorização para sair mesmo que por breves 5 minutos... pedia autorização para tudo... e os meus pais respondiam espantados "Claro filha... não precisas de pedir!", então de onde ia eu buscar toda esta cerimónia?!
A primeira vez que disse aos meus pais que os adorava, tive que comprar uns cartõezinhos...
A primeira vez que o disse ao meu pai, com as minhas próprias palavras, tive que enfeitar o cartãozinho feito em casa, com folhas secas, bagos de arroz, pétalas de flores... tudo o que permitisse torná-lo bonito, só no caso de ele não gostar do poeminha que lhe escrevi... tive também vergonha de o dar em mãos, apesar de passar o dia inteiro a tentar fazê-lo. Resignei-me e acabei por lho deixar em cima da almofada (deve ter ficado com bagos de arroz na cama toda, quase que como sacrifício...)... Quando me veio dizer que adorou o cartão (e quase nem ligou ao conjunto de canetas que lhe dei), fiquei capaz de me enfiar num buraco com vergonha... mas fiquei tão feliz que fiquei a sorrir feita parva até conseguir adormecer.
A primeira vez que lho disse cara a cara, já não o tinha propriamente como pai, mas mais como um bebé... uma criança que tão mais facilmente aceita o nosso carinho, com a qual não temos medo que ele seja desadequado.
Tenho pena porque sei que não se apercebe do quanto gosto dele, tal como ninguém nesta casa se apercebe do quanto gosto dele... ninguém sabe das recordações que tenho dele, e de como as conto, de brilhozinho nos olhos e sorriso babado, porque sei que tenho o melhor pai do mundo, que alia coração e imensa razão.
E estou a escrever e faço um esforço para não usar o pretérito, o que é por demais horrível... mas tenho saudades tuas... tenho saudades deste pai que me faz sorrir de orgulho... sinto que te perdi e que ganhei um maninho... não que seja mau, é apenas diferente.
abril 04, 2005
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