maio 30, 2005

Perspectivar

Descobrir aos 35 anos que se tem uma doença que progressivamente nos vai tirando a autonomia, num espaço de 1 ano, perder a força e capacidade de mover as pernas, continuando a senti-las... o que é de facto óptimo, porque assim consegue sentir as cãimbras decorrentes de não as mexer.
No ano seguinte, começar a sentir os braços dormentes, perder-lhes a força, mas manter a sensibilidade... para se ser capaz de passar pelo mesmo tormento de dores.
Em 3 anos de evolução de doença, ser tetraplégica... ter 38 anos e não poder tocar os filhos, sofrer com dores constantes, poder apenas prever uma vida vegetativa até que a doença lhe leve o último sopro.

Sempre me impressionou esta doença, desde que tive conhecimento da evolução trágica que lhe está inerente, quando a mundialmente conhecida violoncelista Jacqueline du Pré teve surtos de agravamento a meio de concertos... e quando teve um percurso de génio a nada, atingindo o mais puro vegetatismo em 5 ou 6 anos... com esta facilidade e displicência... Saber aos 28 anos que se tem Esclerose Múltipla e que se vai morrer lentamente disso... e que só alguns anos depois de se morrer é que o seu corpo irá a enterrar.

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