agosto 25, 2005

Inominável, Samuel Beckett

Andei a mexer em papéis antigos vários, e encontrei estes trechos que me parecem indicar a qualidade e interesse do livro...

E os objectos? Que atitude se deve ter com objectos? Antes do mais serão necessários? Que pergunta. Mas não escondo a mim mesmo que devem estar previstos.

Haverá mais panos de fundo, panos de fundo mais fundos? A que panos de fundo dá acesso este pano de fundo? Estúpida obcessão de profundidade.

Mas eu já deixei de baixar os olhos. Em suma: só vejo o que surge mesmo à minha frente; só vejo o que surge muito perto de mim; o que vejo melhor, vejo-o mal.

Divirto-me a tentar descobrir quem me pode ter feito estas feridas de nada.

Põe-me as coisas em movimento sem haver qualquer preocupação com a forma de as fazer parar. Para falar. Começa-se a falar como se fosse possível parar, se se quisesse. É assim. O que permite que o discurso prossiga é a procura da forma de fazer parar as coisas, calar a voz.

E receio muito, já que só pode tratar-se de mim e deste lugar, que mais uma vez esteja prestes a dar-lhe um fim, ao falar deles. O que não teria importância, não fosse a obrigação em que me veria, uma vez liberto, de recomeçar, a partir de lado nenhum, de ninguém e de nada, para chegar lá de novo, por caminhos novos claro está, ou pelos antigos, sempre irreconhecível.

Considerar-me, sem escrúpulos nem cerimónias, aquele que existe, de uma forma qualquer, pouco importa qual, nada de requintes, aquele de quem esta história, por um instante, queria ser a história. Melhor ainda, usurpar um espírito. Falar de um mundo meu, também chamado íntimo, sem me estrangular. Deixar de duvidar, seja do que for. Deixar de procurar, seja o que for.

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