agosto 01, 2005

6ª feira à noite no teatro

Pensa-se em Saramago e extrapola-se logo para uma coisa mais ou menos séria... lembramo-nos de um dos seus livros que nos é preferido, o «Ensaio sobre a cegueira», e o pensamento que se lhe segue é "deve ser muito bom vê-lo no palco!"

Pensava eu assim quando comprei os bilhetes... e depois o Fa disse-me que tinha visto uma reportagem na 2: e que aquilo parecia ser meio experimentalista. E eu pensei (eu que odeio arte experimentalista) "oh... mas ao menos há sempre o texto, a história... não vão poder fugir a isso!" e fui na mesma.

Começa a peça... entram 8 preservativos humanos roxos, a lembrar o "ABC do amor" do Woody Allen, com passinhos rápidos e pequenos... não se sabe o que estão ali a fazer nem para que servem... mas são arte!
Quando os personagens ficavam cegos, a sua voz alterava-se para um irritante e rouco tom de voz de desenho animado... de 5 em 5 minutos, punham os rabos à mostra para dar a entender o carácter animalesco de uma vida em que ninguém vê o estado das coisas... o intervalo que ninguém entende como tal e que por isso mesmo não recebe aplausos, o ar aparvalhado de todos os espectadores quando de facto se apercebem que era o final do primeiro acto... uma criança (de uns 40 anos e com pele de adolescente de facto... pelo menos no que diz respeito ao acne) que já não se lembra o que é o latão e que ouve atentamente que "o latão é amarelo" em tom teatral... um final pseudo-artístico em que um quadro ofertado por uma velha cega à criança então cega diz tudo (ou não): um banco vazio junto a uma janela... como que à espera que alguém se sentasse nele para ver a vista, que sempre esteve lá para ser vista só que por muito que a olhassem ninguém a via... um elenco que corre para poder dizer que foi 2 vezes ao palco...

E depois o mais agradável e comum a todas estas coisas pseudo-artísticas: o espírito de "o rei vai nú"... quem não aprecia é um epsilon-bruto sem qualquer sensibilidade... porque aquilo é arte! É-se um ignorante se por ventura se chama àquilo a merda que é... adoro as idiossincrasias sociais... deliro com elas!

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