novembro 16, 2008

5ª feira negra

Irrita-me a arrogância de se pretender entender os outros a partir de nada. Sempre me irritou. Provavelmente porque várias vezes sou alvo dela, uma vez que opto por não me dar de barato a toda a gente.

Presumir que se conhece alguém, ter por garantido, a certeza que se conhece alguém... essa certeza, quase sempre arrogante, irrita-me.
Por vezes, quando baseada em observação (da pessoa, dos gestos e atitudes), o que revela que de facto se investiu alguma coisa nesse conhecimento, é tolerável, muito embora pese sempre o facto de nos despir frente ao outro... e naturismo é bom para quem gosta.

E isto surge-me porque me incomoda a visão que a população em geral forma acerca da classe médica. Adquirida recentemente, à laia de séries de TV, de media sensacionalistas, de (des)conhecimentos veiculados pela internet quando não há capacidade (leia-se formação científica) para compreender e digerir.

Os médicos são ricos.
Os médicos fazem greve porque querem ir de férias, ao contrário dos restantes trabalhadores que fazem greve porque o patronato os vilipendia.
Irrita-me... irrita-me porque a verdade é que os médicos até são a classe que menos abusa do direito à greve em portugal. Pois, mas é porque são ricos...

O médico é bestial quando nos confirma doenças, quando nos passa baixas, quando nos passa receitas (de preferência com antibióticos, que se entendem como panaceia universal não sei bem porquê), quando nos põe em lista de espera para uma cirurgia da qual não precisamos... passa a besta assim que nos recusa seja o que for com que vamos fisgado ao pedir a consulta.

98% do trabalho de um médico (excepção feita a algumas especialidades) não é curar, é averbar saúde, assegurar as pessoas de que estão sãs. Na minha curta experiência (de aproximadamente 4 anos), poucos foram os que encararam bem essa notícia. Estranhamente preferiam estar doentes. Agora vão dizer o quê aos amigos e vizinhos? Que são mariquinhas porque se queixam e na verdade não têm nada?!

A saúde já não é um bem precioso, não dá conversa, não gera empatia...

7 comentários:

Vanessa disse...

por outro lado quando gera simpatia e alivia a mente e coração pesado de quem pensa que está doente, vale mil louvores :)

não tomar por garantido, indeed.
são dias!
bjao ~**

esquizoide disse...

isso és tu que és uma rapariga inteligente, com uma vida que te dá o suficiente q fazer e pensar, para não te prenderes com estas questiunculas... :)

Facto é que gente de mais se preocupa isso sim com o que vai poder contar da sua historia hospitalar. Prova disso é a quantidade de pessoas que pouco mais quer saber em relação ao resultado das cirurgias além do número de pontos que levou...

Carolina disse...

Concordo contigo até ao último ponto. Lembro-me de um dia em que a minha mãe, sempre tão calma e paciente, explodiu quando às 9:30 da manhã chegou a 5a pessoa a pedir um antibiótico sem receita. E aquele cliente que me pediu o "antibiótico para a cistite". Quando lhe perguntei qual era, ele muito confuso insistiu na questão. Finalmente percebi que ele não tinha ido ao médico e não tinha sido diagnosticado, e muito menos receitado. Quase que me arrancou a cabeca quando o mandei ao médico. Bons velhos tempos de balcão... :)

Carolina disse...

Concordo contigo até ao último ponto. Lembro-me de um dia em que a minha mãe, sempre tão calma e paciente, explodiu quando às 9:30 da manhã chegou a 5a pessoa a pedir um antibiótico sem receita. E aquele cliente que me pediu o "antibiótico para a cistite". Quando lhe perguntei qual era, ele muito confuso insistiu na questão. Finalmente percebi que ele não tinha ido ao médico e não tinha sido diagnosticado, e muito menos receitado. Quase que me arrancou a cabeca quando o mandei ao médico. Bons velhos tempos de balcão... :)

esquizoide disse...

Pois.. essa é outra.
Mas aí tenho q desfazer da vossa classe, porque nem todos são como tu e a tua mãe.
Daí que ache uma certa piada ao comentário da vossa bastonária, que foi incapaz de dizer uma única vez que "não, não se dão antibióticos over-the-counter"... porque no fundo (ou mesmo à superfície) sabe que é uma pratica vergonhosamente corrente.

Um exmplo: uma amiga minha tinha uma dor de dentes. Pediu-me uma receita para um antibiotico (que n posso passar ainda). Fiz-lhe umas perguntinhas, sem sequer a ver pq isto foi pelo telefone, e facilmente percebi que n tinha indicação alguma para antibiótico, apenas para analgésico e anti-inflamatório.
Foi a uma farmácia (uma só) e saiu-lhe o jackpot à 1ª pq lhe deram logo o AB... enfim... :(

Carolina disse...

Cara amiga, em todos os casos há maus exemplos. :) O caso da cistite que eu mencionei, telefonou ali mesmo ao médico e pediu-me o antibiótico que este lhe indicou. É claro que lho vendi, mesmo sem receita médica. Tal como há médicos que prescrevem antibióticos inadequados, dosagens inexistentes, etc. Mas um não são todos. Temos de nos limitar a tentar ser o melhor possível e dar o exemplo à classe. Bjs.

esquizoide disse...

Claro, nem eu quero c isto dizer q todos os farmacêuticos o fazem ou que todos os médicos são competentes. Sei bem que não é por aí ;)