Gostaria de pensar que um esquizofrénico consegue ver aquilo que não está à vista dos demais... que na verdade não são loucos, apenas pessoas que se apercebem de algo que não está ao alcance dos outros.
Paralelamente à história do poço de água envenenado de um reino, que tornou todos os habitantes que dele bebiam doidos... quando todos os habitantes tinham bebido dessa água, entendiam-se perfeitamente, e consideravam que todos os outros (nomeadamente a família real que tinha um poço próprio) sim eram doidos. A família real não teve outra opção senão beber da mesma água, e assim tudo continuou como dantes, com pleno entendimento entre a família real e o seu povo, mas para o exterior, eram todos doidos.
Gostava de poder acreditar nisso, mas depois há o pormenor (essencial) do facto dos delírios deles não serem perfeitamente lógicos... há também a distinção entre delírios verosímeis e inverosímeis, que ainda acrescenta algo mais a esta minha vontade de acreditar.
Hoje, no estágio que frequento, tive oportunidade de contactar com um doente esquizofrénico... impressionou-me a manifesta redução (ausência?) de qualidade de vida que esta doença traz. Impressionaram-me algumas risotas de colegas meus...
Impressionou-me sobretudo o facto de eu dizer que sou algo esquizóide, e de de facto o ser... mas que no fundo não faço ideia o que é ser-se esquizofrénico (e ainda bem!). Impressionou-me o facto de eu o entender... de reconhecer nos comportamentos que ele tem alguns semelhantes, com a mera diferença de ele ter a certeza que os dele estão correctos, e eu automaticamente pressupor que eles são "delírios" meus...
Será que a fronteira entre o são e o doente (entre mim e ele, neste caso) é de facto apenas a certeza? a dele na veracidade do que sente e eu na falsidade do que sinto?!
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