março 24, 2007

Espelho meu

Fazia-me falta um de corpo inteiro... não saberia onde o pôr, mas um espelho é como um baço: nunca lhe damos importância, porque sempre vivemos com ele, nunca reparámos o quão importante e entrosado no nosso quotidiano ele estava... até ao dia em que nos vemos sem ele, e aí a nossa vida parece não ser possível... (ok, deixei-me levar demasiado pela metáfora... é possível viver sem um espelho de corpo inteiro!! mas olhem que custa!!!)

Mas evitando o impulso de viajar na maionese, vamos ao que vinha...

Sou, naturalmente e intrinsecamente, formal, contida, quase fria... não pareço, no meio de simpatias e sorrisos e atenções, mas chega dada altura em que não deixo mais.

A Jô acha que é filme meu, que não sou nada assim, mas que é esse o reflexo que de mim vejo, sem que necessariamente seja correcto... mas, apesar de achar que nalguns aspectos, os nossos amigos mais especiais e próximos nos conhecem melhor que nós mesmos, acho que aqui me conheço melhor.

E digo-o com alguma tristeza, porque sei que me privo de imenso com esta maneira de ser... sei que mais facilmente me distancio das pessoas, porque menos me prendo a elas. Não que não me sejam queridas, que não me sejam necessárias, mas não me são indispensáveis... chego à conclusão psicanalítica que na antecipação da rejeição, não deixo ninguém me ser indispensável, tornar-me dependente de ninguém...

É triste criar muros à volta, e ainda fazer cara feia a quem tem a audácia de espreitar por cima deles... qualquer dia fico uma daquelas septuagenárias eremitas, com a casa cheia de gatos (porque é que septuagenárias eremitas não gostam de cães?!.. ah, provavelmente porque implica sair à rua para os passear...) e cheiro intenso a amoníaco que já nem mesmo eu (menina cacósmica ou hiperósmica como sou) me apercebo...

...
Não ter espelho de corpo inteiro dá nisto! Rai's parta a feira popular...

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