Não cabe num cartão, nem cabe aqui... não cabe em palavras. As que toscamente esbocei nunca te deram a real noção.
Espero, infelizmente não consigo crer com certeza, mas espero realmente que agora consigas perceber.. tu nunca acreditaste e eu sempre questiono, mas algures no espaço e no tempo tu agora percebes, o que tantas vezes escrevi e algumas te dei a ler, o que tantas vezes pensei e senti.
Sempre acreditei que eras tu que me conseguias ler... os dois calados por feitio, tu entendias a minha linguagem muda. Há 6 anos que tenho saudades tuas, estupidamente pensei que só elas me restavam. Agora tenho saudades do que nem cheguei a viver nestes 6 anos... e por isso desculpa-me.
E tudo o resto que fica entre nós...
março 28, 2008
março 15, 2008
A vida depois de...
Ina pá... ele há dias em que tudo nos passa pela cabeça e algures se encontra um outlet para tanta informação, vezes demais errante e como tal errática... ele há dias em que só queremos etiquetas, gavetas, caixinhas.
Este é (mais) um desses dias. Tenho andado com esse espírito. Certamente porque tanta coisa acontece ao mesmo tempo, tanta coisa tenho pendente ou nas prioridades imediatas que me perco.
Começar a especialidade, suponho eu, é um recomeço para todos. Sentirmo-nos vacilantes, inaptos, muito bebés... a minha é capaz de ser uma das mais mázinhas neste aspecto. Sinto que dos 6 anos de estudo, pouco se retira que ajude neste momento. Assim sendo tenho que reaprender a anatomia, tenho que aprender uma série de coisas que desconhecia, tenho que estudar até cair para o lado à noite. A única boa notícia é que afinal tenho mais tempo livre do que pensava, porque os neurocirurgiões, tal como todos os outros cirurgiões diga-se, não passam muito tempo no hospital. A única diferença é que as cirurgias são mais longas e eventualmente 1 ou 2 vezes por semana fico para além do meu horário por estar no bloco... nos restantes, a hora de almoço (que pode chegar até às 4pm) é a charneira, o que me dá tempo para ginásio, para chegar a casa, estudar até dormir... isto para no dia seguinte levar uma rabecada por não saber qualquer outra coisa que não vinha a propósito de nada, e como tal não foi estudada na noite anterior.
O ambiente é óptimo, as pessoas simpáticas, a vontade de ensinar é mais que muita. Não me queixo nesse aspecto. Tenho sim o peso de todos os calhamaços que tenho que ler, e pior, tenho ainda que comprar, sobre os ombros...
Não estou acostumada a sentir-me ignorante, e de facto é assim que sinto dia após dia. De vez em quando as coisas correm mais ao meu usual e sinto-me bem comigo mesma. Já noto diferenças entre o 1º dia e este 40º qualquer coisa...
Outra coisa a que não estou acostumada são os bancos de 24h... alguém deveria ir para o inferno por ter tido tal ideia estúpida. 24h a trabalhar é incomportável, muito menos em profissões em que o erro é intolerável ou inadmissível. Quem foi o idiota que se lembrou disso, hein?!
Mas tem tudo o resto. O fascínio de voltar a aprender... não é tão grande quando se mantém fixado o tanto que se tem para aprender, mas dá na mesma um certo prazer. O olhar para trás e ver um percurso, pequenino, mas onde vemos as nossas próprias passadas. As primeiras oportunidades de intervir, as primeiras intervenções e as primeiras pequenas sensações de autonomia... o poder prescindir da sinceridade perene (e necessária, convenhamos) de dizer "não sei", para responder a uma qualquer pergunta que faça um colega de outra especialidade, uma enfermeira, um tutor... isto partindo do pressuposto que se dá a resposta só quando se tem a certeza de que é a correcta! Convem!!... É que nem todos sabem tão bem quanto nós o quão maçaricos somos... alguns, incautos, até olham para nós e pensam "maçarico ou não é a especialidade que está a tirar, mais do que eu disto sabe de certeza"... olhe que não, olhe que não!!...
E com isto vem mais um ponto negativo. Sinto-me a morrer para o mundo extra-hospital, extra-especialidade... não leio um livro desde que comecei a estudar para a especialidade (excepto, obviamente, livros relacionados com o que estudo), não vou ao teatro ou a uma exposição ou a qualquer coisa de medianamente cultural há quase 1 ano, excepção feita a um ou outro concerto. E custa-me... sinto-me esmorecer em tudo o resto enquanto cresço naquilo em que temo que me venha a tornar. Pressinto mais uma crise de meia-idade, em que me sinto desinteressante e desinteressada... pressinto... convenhamos, está instalada de pedra e cal.
Sinto que perco a ligação com as pessoas mais distantes, aquelas que são nossas amigas e vemos de tempos a tempos, que não são parte do nosso quotidiano mas que quando estão por perto encontramos com gosto... sinto que a inadequação é também característica dessa situação.
Basicamente estou cansada... cansada de lutar contra tudo o que não quero que aconteça em consequência de... e acho que isso significa que vou mesmo deixar de lutar. A vida é assim, nem sempre toma o rumo que queremos, nem sempre pára para descansar quando mais nos doem as pernas ou mais nos falta o ar.
A solução é mais ginásio e deixar de fumar... ok, então a solução é ginásio e champix... ok, a solução é então ginásio, champix e omeprazol! Fixe...
Este é (mais) um desses dias. Tenho andado com esse espírito. Certamente porque tanta coisa acontece ao mesmo tempo, tanta coisa tenho pendente ou nas prioridades imediatas que me perco.
Começar a especialidade, suponho eu, é um recomeço para todos. Sentirmo-nos vacilantes, inaptos, muito bebés... a minha é capaz de ser uma das mais mázinhas neste aspecto. Sinto que dos 6 anos de estudo, pouco se retira que ajude neste momento. Assim sendo tenho que reaprender a anatomia, tenho que aprender uma série de coisas que desconhecia, tenho que estudar até cair para o lado à noite. A única boa notícia é que afinal tenho mais tempo livre do que pensava, porque os neurocirurgiões, tal como todos os outros cirurgiões diga-se, não passam muito tempo no hospital. A única diferença é que as cirurgias são mais longas e eventualmente 1 ou 2 vezes por semana fico para além do meu horário por estar no bloco... nos restantes, a hora de almoço (que pode chegar até às 4pm) é a charneira, o que me dá tempo para ginásio, para chegar a casa, estudar até dormir... isto para no dia seguinte levar uma rabecada por não saber qualquer outra coisa que não vinha a propósito de nada, e como tal não foi estudada na noite anterior.
O ambiente é óptimo, as pessoas simpáticas, a vontade de ensinar é mais que muita. Não me queixo nesse aspecto. Tenho sim o peso de todos os calhamaços que tenho que ler, e pior, tenho ainda que comprar, sobre os ombros...
Não estou acostumada a sentir-me ignorante, e de facto é assim que sinto dia após dia. De vez em quando as coisas correm mais ao meu usual e sinto-me bem comigo mesma. Já noto diferenças entre o 1º dia e este 40º qualquer coisa...
Outra coisa a que não estou acostumada são os bancos de 24h... alguém deveria ir para o inferno por ter tido tal ideia estúpida. 24h a trabalhar é incomportável, muito menos em profissões em que o erro é intolerável ou inadmissível. Quem foi o idiota que se lembrou disso, hein?!
Mas tem tudo o resto. O fascínio de voltar a aprender... não é tão grande quando se mantém fixado o tanto que se tem para aprender, mas dá na mesma um certo prazer. O olhar para trás e ver um percurso, pequenino, mas onde vemos as nossas próprias passadas. As primeiras oportunidades de intervir, as primeiras intervenções e as primeiras pequenas sensações de autonomia... o poder prescindir da sinceridade perene (e necessária, convenhamos) de dizer "não sei", para responder a uma qualquer pergunta que faça um colega de outra especialidade, uma enfermeira, um tutor... isto partindo do pressuposto que se dá a resposta só quando se tem a certeza de que é a correcta! Convem!!... É que nem todos sabem tão bem quanto nós o quão maçaricos somos... alguns, incautos, até olham para nós e pensam "maçarico ou não é a especialidade que está a tirar, mais do que eu disto sabe de certeza"... olhe que não, olhe que não!!...
E com isto vem mais um ponto negativo. Sinto-me a morrer para o mundo extra-hospital, extra-especialidade... não leio um livro desde que comecei a estudar para a especialidade (excepto, obviamente, livros relacionados com o que estudo), não vou ao teatro ou a uma exposição ou a qualquer coisa de medianamente cultural há quase 1 ano, excepção feita a um ou outro concerto. E custa-me... sinto-me esmorecer em tudo o resto enquanto cresço naquilo em que temo que me venha a tornar. Pressinto mais uma crise de meia-idade, em que me sinto desinteressante e desinteressada... pressinto... convenhamos, está instalada de pedra e cal.
Sinto que perco a ligação com as pessoas mais distantes, aquelas que são nossas amigas e vemos de tempos a tempos, que não são parte do nosso quotidiano mas que quando estão por perto encontramos com gosto... sinto que a inadequação é também característica dessa situação.
Basicamente estou cansada... cansada de lutar contra tudo o que não quero que aconteça em consequência de... e acho que isso significa que vou mesmo deixar de lutar. A vida é assim, nem sempre toma o rumo que queremos, nem sempre pára para descansar quando mais nos doem as pernas ou mais nos falta o ar.
A solução é mais ginásio e deixar de fumar... ok, então a solução é ginásio e champix... ok, a solução é então ginásio, champix e omeprazol! Fixe...
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