junho 27, 2009

P. can you hear me?

Possivelmente sou do contra. Aliás, não é uma possibilidade, é uma certeza, sou do contra. Adoro fazer de advogada do diabo, simplesmente porque gosto sempre de ver os dois lados de qualquer questão e defender o óbvio não só não tem piada nenhuma, como seria apenas mais uma das vozes do coro.

Gosto de assinalar o que os outros não atingem, não estão sensibilizados para ou simplesmente não têm a coragem ou frontalidade necessárias para o fazer. Serei possivelmente uma criança megalómana em idade de armário para me sentir tão bem em me demarcar dos outros mas o que é certoé que em muita coisa da minha vida ajo em função desta vontade, necessidade ou crença.
Felizmente gente medíocre e fraca abunda e esta demarcação acaba por me tornar melhor pessoa.

Ando desconsolada com o que vejo nas pessoas à minha volta. Colegas de trabalho nomeadamente. Falta de formaçao (enquanto pessoas, enquanto profissionais até). Boas vontades, bonacheirices e solilóquios não substituem a essencial educação, respeito pelo outro e conhecimento técnico e teórico daquilo que é o seu milieu.

Custa-me deixar cair as pessoas do pedestal em que vezes demais as ponho. Por ingenuidade. Por complexo de peter pan. Por complexos edipianos mal resolvidos. Quem(ou aquilo que) ganha a minha admiração, ganha inevitavelmente uma acérrima defensora e gestora de marketing, não descanso enquanto não convencer todos à minha volta de que aquilo que defendo é de facto o melhor.

Mas essa ingenuidade e amor àquilo que me conquista o respeito, pela admiração, fazem com que vezes demais me precipite. Como uma adolescente que ao 2º dia de namoro espalha que encontrou o amor da sua vida, repetindo a constatação a cada novo namoro com 2 semanas de validade.

Posso não ser a mais estudiosa, a mais uptodate, a melhor técnica... mas sou a melhor pessoa, a mais educada e atenciosa para com doentes e colegas e profissionais com que me cruzo. Cada vez me sinto melhor comigo mesma por isso. Cada vez mais reafirmo para mim mesma que é assim que quero ser, que é este o rumo certo. De cada vez que com um sorriso me agradecem a atenção de dirigir uma palavra explicativa ou de sossego, de cada vez que vejo esse efeito em doentes e familiares, de cada vez que sinto que fiz tudo ao meu alcance para descansar ou pelo menos elucidar quem tinha à minha frente. Sinto-me bem como pessoa. Sinto que sou filha do meu pai. Sinto que o honro como ele sempre me honrou a mim, como todos os dias me honra. Percebo, ao fim deste tempo todo, que sermos o cunho dos nossos pais em nós é positivo, é sinal que nos ensinaram os val0res com que sempre viveram a sua vida e com os quais ganharam o respeito de todos os que os rodearam, inclusive os seus filhos.

E sinto-me estúpida. Terrivelmente estúpida. Por nunca te ter dito tudo isto. Por enterrar palavras e sentimentos dentro de mim como se fossem tesouros preciosos, de forma egoísta. Por não me dar, por não me entregar. Por medo de rejeição, por medo de ser rejeitada por quem nunca me rejeitaria, por quem sempre teve braços e coração aberto.
São os medos que nos atam, que nos calam. Os meus paralisam-me, congelam-me numa forma de estar asséptica e impessoal. Tenho receio que nunca me tenhas conhecido. Que nunca tenhas visto o teu cunho em mim, que nunca tenhas visto em mim a tua ovação.

6 comentários:

abcd disse...

mais do que ver, com certeza sentiu-a.

esquizoide disse...

provavelmente não...

esquizoide disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Garamond disse...

Hoje por acaso, passei por aqui. Parece frase gatafunhada na porta de uma qualquer wc, mas não.

Hoje por acaso dei-me conta, lembrei-me assim como quando devoramos lentamente os morangos, das palavras que um dia te disse.

Hoje, porque por acaso passei por aqui, finalmente posso dizer-te que estava certa: de projecto de mulher passaste a uma MULHER.

Vale a pena o passar dos tempos, quando descobrimos por acaso, aquilo que outrora tivemos como certeza.

Beijo grande

Gar

RM disse...

Se acreditas naquilo que está dentro de ti, sem ser a mesa da ciência, certamente que sabes que "ele" está contigo. De alguma forma, és parte do que construiste, mas também és Mulher, como tão bem disseram,porque te "colocaram" assim nesta vida.
Passamos por épocas decisivas na nossa vida, em todas as idades. Já o conseguimos ver hoje, com vinte e muitos. Chateamos-nos, porque achamos muitas vezes que o Mundo ou somente os nossos pais estão contra nós. Até mesmo que nascemos algo diferentes dos que nos são mais queridos. No fundo, eles deixam o cunho em nós, acredita, e em tantas coisas que nem mesmo nós nos damos conta ao longo da caminhada que vamos fazendo vida fora.
Serena, amanhã pode ser um dia melhor.
Kiss
T.

esquizoide disse...

está longe de ser essa a questão. a diferença entre o cunho deixado pelo meu pai ou pela minha mãe prende-se com a natureza desse mesmo cunho. o facto de eu o aceitar com apreço de parte do meu pai tem a ver c a pessoa q ele sempre foi, inspiradora para qualquer um que se queira sentir bem na sua pele enquanto pessoa. o mesmo n se pode dizer em relaçao a minha mae.

o ser mulher ou nao nada tem a ver. sempre fui. n mudei agora. reconhecer os medos torna-me mais adulta sim, nada mais.