Ontem uma senhora abordou-me na rua do hospital, a pedir-me ajuda para encontrar a mãe dela. Não sabia em que serviço estava, sabia apenas que tinha estado no serviço de urgências. Quando foi lá saber da mãe mandaram-na dar uma volta ao hospital à procura da senhora...
Ela encontrou-me precisamente do outro lado do hospital, onde não me soube dizer nada que me orientasse. Perguntei-lhe porque é que a mãe tinha vindo ao hospital, de que se queixava... dado que pelas queixas ou estaria no meu serviço (e eu sabia que não estava) ou num outro, fui com ela a esse serviço.
A doente não estava lá. Procurei no sistema, e a senhora tinha tido alta há 2h do serviço de urgência geral... isto no sistema, porque provavelmente estava numa cadeira qualquer, provavelmente já com o epítet "caso social". Lá encaminhei a senhora, com indicações para falar com os administrativos e com as folhas que lhe dei na mão obrigá-los a encontrar-lhe a mãe.
Quando voltei ao serviço onde tinha sido chamada, a copeira e a auxiliar de acção médica saíram-se com esta:
- Ai Sra. Dra., isso já não há...
- Desculpe?...
- Isso que a Sra. Dra. fez... isso já não se faz. Parar o seu trabalho e andar a ajudar aquela senhora assim.. acho que faz muito bem e que Deus a ajude em tudo quanto lhe vier pela frente.
Ri-me, agradeci, fiquei toda orgulhosa de mim mesma (babada na verdade)... mas depois fiquei a pensar... que raio de fama têm os médicos. O que é que custa fazer o que fiz, sinceramente? É assim tão frequente virar as costas a uma pessoa que nos pede ajuda a encontrar a mãe que estará algures no hospital que nós conhecemos bem e onde nos sabemos mover?
E não me senti superior ou bem comigo mesma por não ser assim... senti-me triste.
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1 comentário:
é verdade... muitas vezes esse gesto de simpatia, vale mais do que mil palavras em ambientes de aflição.
boas condutas, bons valores. :)
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