Velhas e relhas, mil vezes remendadas, com pespontos espalhados por toda a parte, as minhas calças preferidas. Não era capaz de as deitar fora, as calças que me ficavam tão bem, exemplo do tipo de calças que mais gostava (justas em cima, a fazer uma pequena - muito pequena - boca de sino)...
Já habituada a ouvir as críticas ao seu mau aspecto (que já o tinham, admito...), não ligava, porque eram as minhas calças preferidas, as que me ficavam tão bem... tal como não tenho qualquer problema em usar a minha sweat velha relha (mais velha do que eu) que o Argos fez o favor de rasgar num momento de brincadeira mais acesa e que por isso mesmo está também remendada, pespontada, suturada. São cicatrizes na minha roupa, histórias da minha vida. Não me envergonham, por muito que tenham tentado guilt-trip me a isso.
Ontem, enquanto fumava um cigarro a seguir ao jantar, vi-me no reflexo da porta do restaurante (poderia ter sido em casa, ao espelho, mas há coisas que só se tornam óbvias nos sítios mais inesperados)... as minhas calças favoritas já não me ficam bem, estão-me largas, caem-me, sobram-me pregas em todo o lado, pelos muitos pespontos alinhavados o corte está todo alterado, ainda mais tecido parece sobrar...
Fomos felizes, mas como em tanta coisa na vida, vou deitar-vos ao lixo (porque não posso realmente dar-vos a ninguém)... it was a fine romance, mas agora acabou. Vou seguir a minha vida para outros pares de calças, que me fiquem melhor, que assentem no meu novo eu... vocês já não me servem.
7145 - Post Scriptum 2021 (Tinto)
Há 4 dias