Consome-me um bocadinho, e quem me conhece sabe que eu me consumo com muito e por pouco, a tradição... o conceito de tradição.
Algo que sem qualquer substrato real ou comprovável, passa de geração em geração, inabalável e indestrutível só por ser uma tradição. Acredito que muitos super-heróis de banda desenhada tenham sido criados a pensar apenas nesta entidade...
A tradição... pode-se tentar refutar, defender os direitos dos animais, das crianças... "mas é tradição!" e todos os argumentos válidos caem por terra, ao ribombar deste insólito trovão directamente das mãos de Zeus. Diz que as tradições remontam a essa época (à da mitologia grega... que também é tradição, por assim dizer).
E assim, por ser tradição e isso ser incomensurável no que diz respeito à história e noção de "eu/nós" de uma sociedade, perpetuam-se todas as atrocidades.
Parece que falo da tourada, e podia ser... mas não, falo da Páscoa. Viajei um nadinha na maionese, mas vinha falar da Páscoa. Consome-me de facto que um dia/época que diz respeito a uma religião, que não é única ou soberana perante as outras na nossa sociedade (melhor dizendo: não deveria ser), seja imposto a todos: cristãos, judeus (que por acaso este ano por esta altura também comemoram a sua Páscoa, nada relacionada com cristo - mais uma vez... Porque é que o corrector automático me diz que cristo tem que ser com maiúscula?! Até aqui???), protestantes, hindus, ateus, etc...
Claro está que também é tradição portuguesa não se gostar de trabalhar, seja qual for o credo... daí que ateus, protestantes, cristãos e adoradores do diabo recebam com regozijo a ideia de ter feriados católicos como nacionais. Os nossos valores e crenças pouco se comparam à vontade de não trabalhar, convenhamos.