abril 17, 2008

Só às paredes confesso

Adquiri um hábito, com os meus 11-12 anos, de escrevinhar tudo o que sentia e pensava. Esse hábito foi caindo em desuso à medida que adquiri a capacidade absolutamente banal (mas para mim sobre-humana) de falar com outras pessoas, amigos... exteriorizar o que se pensa e se sente não num papel ou com uma parede, mas com alguém com capacidade de resposta, quanto mais não seja de anuência.

E agora volto a esse hábito. Mesmo sabendo que há quem leia o que escrevo, mesmo sabendo que alguns desses interlocutores por direito que escolho abnegar vão ler o que escrevo, mesmo assim volto a este hábito. Porque não sei como o dizer, não sei como fazer as palavras sair. Enrolam-se-me na boca, afloram os lábios com uma inspiração profunda, mas quase nunca saem, quase nunca há o timing, quase nunca o silêncio é longo o suficiente para me dar espaço.

abril 12, 2008

Wild bore

Canso-me, de me esconder de mim mesma... chega ao ponto de me surpreender a mim mesma quanto a quem sou.

Queria ser previsível, mais previsível... sempre achei isso um defeito e a complexidade uma virtude. Hoje acho surpreendente perceber que estava errada.

Sonhei contigo, na verdade tive um pesadelo contigo... não estavas bem. Não me lembro, mas lembro-me da angústia de acordar por não querer encarar que não estavas bem... não é possível que assim seja, sei que não. Se há coisa que tenho como certa é que se alguém merece estar bem és tu, por tudo o que fizeste e por tudo o que passaste, pelo tanto que te amamos.

O sonho deve-se a ideias de pessoas delirantes, doidas na verdade... que uma vez mais guardei em mim. Para os proteger... guardo-me em mim também, porque tudo isto fica entre mim e eu mesma. Sinto-me cada vez mais sozinha de tão fechada. Tenho saudades da tua mão quente e grande suficiente para me fazer concha à cara, tenho saudades de pousar a cara nela... não precisava de mais nada.

abril 08, 2008

Faltam-me as memórias

Lembranças vagas, momentos fugidios... por vezes em flashes, por vezes um momento inteiro me ocorre. Custa-me que o mais marcante, e aquilo que mais facilmente me ocorre sejam estes 6 anos.

Invejo por vezes os meus irmãos, que tiveram uma vida inteira adulta para absorver tudo... tirando aquilo de que não tenho grande memória ou pelo menos muito bem definida, tirando a presença central e marcante (pela negativa na maioria dos casos) da minha mãe, pouco resta... resta uma adolescência em que me alheei de todos e ficaste tu, mas nem dessa retenho memórias definidas.

Tenho episódios, tenho expressões, tenho momentos... tenho abraços, tenho carinhos, tenho olhares... não te tenho a ti. E isso custa-me...

Sinto que me escapas por entre os dedos. Sinto que as fímbrias de memórias que tenho, também elas se desvanecerão. E isso custa-me, custa-me tanto...
Tenho necessidade de ouvir falar de ti, tenho necessidade de te sentir, mesmo que por interposta pessoa... espero que vejas que isso acontece, espero que vejas que aquilo que sempre me pediste está a acontecer por ti... por tua causa estamos mais próximos. E teria que ser assim, porque sempre foi...

Nunca pensei que me custasse tanto, sempre pensei estar preparada, sempre pensei estar à espera, sempre pensei quase o desejar (por ti), sempre pensei conseguir ser fria o suficiente para distinguir o racional do emocional... e não sou. Não consigo. Sei que te queria ter aqui. Sei que faria tudo de maneira diferente. Sei que não me é dada essa oportunidade e isso custa-me...

So dear friend

Escolho os meus amigos não pela pele ou por outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero o meu avesso.

Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim. Para isso, só sendo louco.

Quero-os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho os meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.

Não quero só o ombro ou o colo, quero também a sua maior alegria. Amigo que não ri connosco não sabe sofrer connosco.

Os meus amigos são todos assim: metade disparate, metade seriedade.

Não quero risos previsíveis nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade a sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.


Não quero amigos adultos, nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice. Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.

Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois vendo-os loucos e santos, tolos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril.



Oscar Wilde